Salsa: O Fenômeno Social

Já escrevi sobre o sentimento de “ser latino”. Abordei a dificuldade e a necessidade que todos nós sempre tivemos, como nações, povos e culturas, de estabelecer e firmar nossa identidade, e de como, apesar de sermos aos olhos do mundo “civilizado”, um aglomerado de nações e culturas subdesenvolvidas, temos infinitas razões para nos orgulharmos das nossas raízes, dos nossos sentimentos e do que somos.

Nesse contexto, é muito fácil entender o porquê de um ritmo como a salsa ter se tornado tão popular e representativo entre tantos países e nações da América Latina e seus cidadãos, ávidos por algum símbolo, alguma manifestação que os identificasse e os valorizasse, entre eles e perante o resto do mundo. Mais do que um ritmo popular, a salsa se transformou numa forma de comportamento, numa maneira de ser, num jeito diferente e especial de se comportar e se relacionar socialmente. O que chamamos de “ser salsero” ou “ser rumbero”.

Mas e como explicar que essa mesma música tenha se tornado o fenômeno social que é hoje, ouvida, dançada e cultuada em todas as partes do planeta, com verdadeira paixão, por milhões de seguidores e aficionados?

Só para se ter idéia, mais de 60 países têm, em suas principais cidades, bares e casas noturnas latinas com programação dedicada à salsa e aos ritmos caribenhos. Países diferentes e de características tão diversas entre si, como Alemanha, Itália, França, Suíça, Egito, Finlândia, Grécia, Israel, Japão, China, Austrália, Turquia, Ucrânia, Vietnã e Cazaquistão, entre outros. Em 2011, acontecem pelo mundo pelo menos 272 grandes eventos internacionais de salsa, 111 deles só na Europa. São números impressionantes.

Responder à essa questão, daria todo um tratado, um livro talvez, e seguramente muitos artigos. Mas alguns aspectos importantes talvez possam nos ajudar a compreender ao menos uma parte desse interessante enigma:

  • A salsa traz em si, desde suas raízes, elementos de diferentes culturas que se mesclaram de uma forma muito especial. As músicas européia, africana e americana, se misturaram de uma forma peculiar, tornando essa música, que nasceu cubana, uma manifestação artística universal, rompendo as fronteiras geográficas, e criando laços de identificação, e admiração nas mais variadas sociedades;
  • Suas músicas, composições, arranjos e execuções estão entre o que se produz de mais alta qualidade, em se tratando de música popular. Seus músicos e intérpretes são de altíssimo nível;
  • A maioria de suas letras e sua poesia, são sempre de muito conteúdo, falando na maior parte das vezes de sentimentos do povo latino, que constantemente envolvem romances, diversão, celebração, amizade, amor à pátria ou crônicas sociais;
  • É uma música feita essencialmente para se dançar. Sempre teve nos amantes das danças o principal foco, desde o seu surgimento;
  • Sua cultura está muito associada à “maneira latina de ser”, que envolve uma reunião de características singulares, sempre associadas à valores humanos e elementos de socialização como alegria, festividade, coletividade, celebração e integração, entre outros;
  • E a razão mais importante de todas, a meu ver: a salsa é um ritmo muito alegre, festivo e empolgante. Suas músicas exaltam, principalmente, a alegria, a festa, a amizade, o amor e o prazer. Sentimentos valiosos que qualquer pessoa, independente de nacionalidade, região, idade, etnia ou crença, busca.

(Ricardo Garcia – Originalmente publicado no Portal Dança em Pauta )

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